É desumano o que se vem acompanhando sobre o ingresso de
profissionais cubanos, que trabalharão como médicos em regiões longínquas do
Brasil. Para compreender bem o Programa Mais Médicos do Governo Federal, é
preciso se debruçar um pouco mais sobre ele, e também sobre o sistema de
governo da ilha.
Não podemos negar que faltam
muitos profissionais da medicina em nosso país, e faltam ainda mais nas regiões
mais inóspitas do país. Não podemos negar que há um conselho de medicina que
restringe a abertura de novos cursos e novas universidades, o mesmo conselho
que vem agora rechaçar a vinda de médicos do exterior. É sim do exterior, eles
não vem apenas de Cuba. Analisando a fundo este é um grande passo para o nosso
sistema de saúde. Grande não apensa por trazer para cá mais profissionais que
estão dispostos a ir aos mais distantes grotões, favelas e florestas que este
continental país apresenta. Grande pois são médicos, e ai me refiro aos
formados em Cuba, dedicados a atender essa população que os nossos
profissionais nativos rejeitaram.
Precisamos entender ademais
outro ponto importante e que referenda ainda mais os doutores da ilha
caribenha. Como Cuba é uma ilha socialista, livre do privado, e que não coloca o
capital em primeiro lugar, temos toda uma estrutura governamental, acadêmica, e
profissional diferente da que conhecemos aqui. Cuba forma profissionais para
atender ao povo pobre, para ir aos bairros, as favelas, aos confins. Forma
profissional para ir às casas, para sentar a mesa, pra atender gente e ser
gente. Forma profissionais preparados para trabalhar pelo estado, para a
população, não para estabelecerem consultórios particulares e enriquecerem a
custa da saúde alheia.
Ainda há que se analisar outra
questão importante. O sistema de saúde cubano, um dos melhores do mundo,
preocupa-se prioritariamente com o atendimento preventivo. Diferentemente do
que conhecemos os médicos cubanos são preparados para tratar as complicações
com tratamentos definitivos, e não como na sociedade capitalista que se
preocupa em cuidar dos sintomas, abranda-los e medica-los, para que o paciente
volte a ter que consumir medicamentos, ou então tenha que retornar aos
consultórios para tratar o mesmo problema ou um novo originário do tratamento
que foi aplicado para tratar o primeiro. Ora, a indústria farmacêutica não pode
quebrar, ela precisa sempre de novos e novos pacientes. Assim como os médicos
para manterem seus consultórios particulares e assim seus status na alta sociedade.
O médico capitalista não atende por que a sociedade precisa, mas por que ele
precisa dela para justamente estar acima dela. Triste!
Mas ai tem sempre aqueles que
ainda não compreenderam a ideia de socialismo e perguntam o porquê de o governo
pagar para o governo cubano o salário que só depois é repassado aos médicos que
estão aqui no Brasil. Ora isso é o socialismo, a divisão de riquezas entre
todos. Se os profissionais são formados pelo Estado, e no Estado não existe o
privado, apenas o social, estes vem ao Brasil como serviço exportado pelo
Estado em solidariedade com os povos que carecem destes serviços. O governo
então recebe os seus salários lhes paga como médicos cubanos e compartilha com
a sociedade que os formou, e lhes deu uma profissão o restante da verba que o
governo brasileiro lhes oferece. Mas ainda há os que dirão que Cuba vive uma
ditadura e que vive em miséria.
Ora quem somos nós pra falar
em ditadura. Nós que depois de pouco mais de vinte anos de retorno a
“democracia” ainda não somos reféns do capital. Nosso sistema eleitora é piada,
temos mais de 70% de nossos parlamentares eleitos a custa do interesse de
grandes corporações que em nada se preocupam com o interesse da população. Nós
somos reféns do capital. Se Cuba não é ainda o perfeito modelo de socialismo, é
uma sociedade sem berrantes desigualdades sociais. Sem analfabetos, com
baixíssimos índices de mortalidade infantil e com índice de desenvolvimento
humano superior a de países considerados desenvolvidos.
É preciso que se explique o
porquê de Cuba não estar melhor ainda em sua situação econômica e social, e
isso se explica com apenas duas palavras: embargo econômico.
A ilha sofre desde a década de
60 com as mazelas que as restrições, financeiras, econômica e principalmente
comerciais impostas pelos vizinhos estadunidenses. Esta é uma questão que se
estende degradando o povo cubano e subestimando sua soberania de nação
independente e infringe os direitos de não intervenção e não interferência em
seus assuntos internos. Cuba é obrigada a se render aos caprichos do
capitalismo estrangeiros, que já lhes causaram desde 2005 mais de 90 bilhões de
dólares de prejuízo, valor este que poderia ter sido dividido a todo povo
cubano.
É fácil pra quem esta de fora,
ou acostumado a se dobrar perante os interesses do capital criticar um povo que
se preocupa com o vizinho que esta ao lado. É triste também vermos alguns, pois
não creio que sejam todos, médicos brasileiros envergonharem seu país quando
colocam seus interesses econômicos diante do bem comum e mesmo se recusando a
ir para as localidades mais longínquas torcem o nariz quando o governo busca
alternativas como a criação de universidades, cursos e traz de profissionais de
fora.
Hermanos desculpem essas pessoas que tanto tem a aprender com Cuba e seu
povo. Médicos cubanos sejam muito bem vindos.
Rômulo Vargas
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